terça-feira, 20 de outubro de 2015

Theriantropia...?

Eu tenho um segredo.
Desde criança nunca fui um garoto normal, mesmo bebê minha mãe me contava que meus olhos ofuscantes brilhavam numa labareda nervosa quando chorava e costuma morder furiosamente seu peito enquanto mamava graças aos meus dentes, que cresceram logo no primeiro mês de vida. Na vila em que moro, isolada no meio de florestas e belíssimas paisagens, não se obtinham muitas informações a respeito de quase tudo, apenas seguíamos nossas vidas, trabalhando juntos para colaborar com o crescimento da vila.
Quando criança, eu era enérgico. Não parava quieto nunca e tinha o irritante hábito de correr sem rumo sem me importar com o que vinha no caminho, o que logicamente acabava em destruição de plantações, construções inacabadas e afins.
Porém certa vez, em uma dessas corridas, adentrei a Floresta de Pinheiros, uma das muitas que cercava nosso vilarejo. Lembro-me do pânico que senti até hoje. Olhava ao meu redor e via apenas os tais pinheiros, com suas folhas verdes pontiagudas e cheiro de madeira. Meu choro desesperado e gritos de socorro acabaram por atrair uma das feras que apavoravam as crianças em noites frias de inverno: um lobo.
Já ouvira várias vezes as velhas-amas contando histórias apavorantes sobre animais peludos e fedidos, dentes e garras afiados como punhais recém-amolados, prontos para invadir vilas e devorar as crianças que não se abrigassem em suas casas antes do anoitecer. Todos sabíamos, éramos espertos suficientes para saber que aquela era apenas mais uma das histórias assustadoras com o pretexto irritante de nos mandar entrar em casa ao pôr-do-sol, horário que nossas mães nos chamam de volta, mas sabíamos também que era melhor não arriscar. Mas aquele lobo...ele era diferente...ou talvez não, afinal, nunca vi um lobo em toda a minha curta vida de garoto, mas uma coisa eu podia dizer: ele diferia muito dos lobos assustadores vindos dos contos das amas. Seu pelo cinzento tinha manchas de tons mais escurecidos, seu longo rabo peludo estava empinado em sinal de alerta, seus olhos amarelados brilhavam como âmbar e ele cheirava a verão. Algo se agitou dentro de mim, era como uma voz, como algo que latia alto querendo me dominar. Imediatamente me agaichei para, logo em seguida, me aproximar vagarosamente, sem olhar fixamente em seus olhos. Não sabia bem por que fazia aquilo, mas algo me impulsionava, algo fora do meu controle. O animal se aproximou, cheirando o ar e a mim com visível desconfiança e eu, por mais estranho que possa soar, estava calmo. Esperava seu julgamento que podia facilmente resultar em morte, mas sua cauda não demorou para abaixar e seu olhar tornou-se menos tenso. Senti algo diferente naquele momento. Era como se aquela fera fosse parte de mim e vice-e-versa.
O lobo caminhou reto e, ao passar por mim, olhou para trás, dando suaves abanadas em seu rabo. Soube imediatamente o que ele dizia: siga-me.
Eu o fiz, seguindo-o para onde eu não sabia. Quando ele começou a correr em meio às árvores, apressei-me e corri junto dele. Ele em suas quatro patas, eu com minhas pernas. O lobo olhou para trás e parou a corrida, me encarando como quem encara um alien. Sua expressão era gozadora, segui seu olhar e percebi: ele encarava minhas pernas. Como se ser bípede fosse algo estranho, como se correr usando as duas pernas fosse algo primitivo.
Não podia fazer nada, afinal, não nasci quadrúpede. Porém o lobo continuava a me encarar, seus belos olhos cobrando-me. Estava disposto a desistir de me guiar se eu continuasse em duas pernas.
Meio inseguro do que fazia, me agaichei, abrindo as mãos nas folhas secas e dobrando os joelhos, havia virado quadrúpede, como ele exigia. O lobo abanou a cauda e virou-se, pronto para seguir o caminho. Se estava feliz eu não podia saber, sua expressão parecia sempre estar séria. Quando começou a correr eu avancei atrás dele, correndo como ele. Não estava habituado a isso, mas uma sensação me preencheu por inteiro, uma emoção diferente. Algo que dormia dentro de mim que agora despertava. Aquele lobo parecia saber o que eu sentia.
Quando ele parou novamente eu olhei incrédulo: ele havia me levado de volta para o meu vilarejo. Avistei minha mãe, desesperada, procurando por mim. Virei meu olhar para o lobo e ele já não estava mais lá. Meu coração acelerava e eu suava da corrida na floresta. Não sabia como, mas o lobo me entendia e eu entendia a ele, era uma conexão. Algo que pretendia me dominar mais cedo ou mais tarde.
Naquela mesma noite, guiado por um insistente grito pela liberdade, pulei a janela da casa, escondido de minha mãe, e fui até a floresta. Não adentrei muito, para reconhecer o caminho de volta. Ao sentir que era o momento certo, me ajoelhei e olhei para o alto, para a lua cheia. Brilhava em um tom prateado, mais belo que nunca. Enchi os pulmões de ar e soltei aquele fascínio, aquele desejo, aquela conexão escondida até então. Soltei o meu chamado, o meu uivo. Quando achei que era o suficiente, farejei o ar, o cheiro de verão havia voltado, uma mistura de folhas verdes com córregos cristalinos e refrescantes. Olhei ao redor e lá estavam eles, amarelos e atentos, brilhando na escuridão, anunciando sua chegada. Seu uivo encheu meu peito de emoção e então eu soube, sem dúvidas, que ele sempre estaria lá para mim.
Sempre.

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Oi gente!!!!
Trazendo uma coisinha diferente hoje, eu li a pouco tempo a respeito de pessoas que se denominam "Therians".
O que é isso?
Pouco se diz sobre eles na internet, mas do que eu fiquei sabendo é que os Therians são pessoas que acreditam ser animais, ou ter um espírito animal que as guia, ou ter um lado animal dentro delas (ou então isso tudo junto)
Eu achei isso algo engraçado e resolvi escrever um trechinho sobre isso. É um garoto que tinha o espírito animal dentro de si desde muito cedo e entra em conexão com ele quando se perde na floresta e se assumindo um lobo.
Espero que tenham gostado, obrigada por ler até aqui e não se esqueça de comentar ^^

6 comentários:

  1. Nossa, acho que eu posso considerar-me um desses ''Therians'', pelo motivo que as vezes sinto-me como um felino caçador e ágil. Mas não por conta propiá, mas, sempre quando brinco com meu gato ou quando estou com ele na rua ou perto do mato. Tenho costume de fazer tudo que ele faz quando está no mato, Ex:Brincar com tudo que se meche ou tudo que voa.

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    1. Hmm...Será que você é Therian??????
      Resta saber com qual felino você tem conexão *o*

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  2. Já pensou? Pois é, acho que todos temos um Theriam dentro de si! Rsrsrs
    Muito bom, gostei demais Pan. Como sempre: texto impecável! *-------------* <3

    ~Aguardando

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  3. Alguém dá um prêmio nobel para essa menina *u*

    Texto poético <3 Adorei!

    Therian? WHATAFUCK

    Para mim isso é...

    Tipo...

    Muitas dorgas e-e

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  4. ME AJUDA
    PLEASE
    SÉRIO
    SOU EU
    A KAIRI
    EU MEIO QUE DEI UMA MUDADA :V

    O novo endereço do meu blog é: www.wildworldtales.blogspot.com

    Por favor, avise no seu blog para não dar erro de acesso, porque quando as pessoas vão clicar para acessar, fala que não encontrou, então poooor faaaavooor, me ajuda à avisar!!! ;-;

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  5. Acho que sou um desses "Therians" pq quando eu to de boas em casa ai quando vejo algum inseto, ou algo do tipo,fico perseguindo ele igual a um leão,chita,onça ou tigre que persegue a presa
    E as vezes também fico passando as unhas no sofá ou na parede,as vezes ate sem perceber,como se estivesse afiando as mesmas

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