Conto de Dois Irmãos- Cap 6

Na Pedra do Rei estava um rebuliço. Mal o Sol havia despontado por detrás das montanhas e todas as leoas do reino já haviam rumado para a caverna, na intenção de ver os filhotes de Uru.
Era tanta movimentação que nem reparavam em Kala.
A pobre leoa se arrastava pela grama dourada da savana. A barriga doía a cada passo avançado, e a cada pontada que sentia, soltava um gemido de dor.
Não sabia a quanto tempo ao certo ela aguentava as dores, mas tinha aprendido a suportá-las, não havia outro jeito.
Não contava para ninguém, mesmo suas amigas do reino. Procurava manter distância delas o máximo que podia e, quando o encontro era inevitável, limitava-se a fingir que estava tudo bem.
Mas haviam aqueles dias em que não sentia nada, Ah! esses eram dias sagrados em sua vida.
Mas parecia que agora exclusivamente a dor havia piorado. Pelo menos não precisaria fingir para ninguém pois, desta vez, achava que não conseguiria caso tivesse de fazê-lo.
Conforme os dias fossem passando, não teria mais como esconder, pois só de olhar as leoas perceberiam. Seu problema não era elas, mas sim Ahadi...
Ela deitou-se na grama, arfando, e esticou a cabeça na direção de PrideRock...lá estava ele. Sua juba rubra brilhava na luz da matina. Ele se esforçava para manter a ordem, rindo de prazer com os elogios recebidos. Kala sabia que, por mais que tentasse, nunca o teria só para si...devia ter pensado nisso antes de nutrir sua ridícula paixão.
"Como se isso pudesse evitar o que sinto..." ela pensou, se contorcendo na terra. Quem visse poderia pensar que era seu estágio de calor...longe disso.
"Inspire...expire...está tudo bem...Você está bem..." ela acariciou sua barriga. A dor começava a aliviar.
"Posso crer que nossa majestade teve a gravidez mais tranquila do mundo...ela deveria tomar conhecimento sobre as dores mundanas..." de repente, se pegou em seus próprios pensamentos.
"Eu deveria parar de pensar comigo mesma...olhe os tipos de pensamentos que eu tenho. Gostaria de me afastar de tudo isso...Se ao menos eu pudesse...pudesse..."
Um estrondo a interrompeu de suas palavras pensadas. Um trovão. Ao encarar o céu, analisou as nuvens de chuva se aproximando. A vontade de chorar foi inevitável:
"Os Antigos Reis devem estar mesmo com desejo de me limpar deste reino...Depois de tanta imundice que eu fiz. Oh destino...és tão cruel comigo..."
A dor quase não existia mais, mas ela parecia sem força nas patas. Tentava ao máximo se levantar, mas elas tremiam, bambas. Por fim, desistiu, deixando-se cair no chão, permitindo que as primeiras gotas da chuva umedecessem seu pelo avermelhado.
"Nas condições em que me encontro, um mero resfriado pode ser fatal...o que estou fazendo...Por que não consigo..."
As lágrimas desceram, incapazes de se manterem presas. Seus soluços eram abafados pelo som ensurdecedor dos trovões, retumbantes no céu. Na Pedra do Rei, as demais leoas se abrigavam dentro da caverna.

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Enquanto isso, na Pedra do Rei, mais precisamente dentro da caverna, as leoas sorriam ao avistarem os gêmeos reais, que haviam aberto os olhos no início da manhã:

"Eles são perfeitos...quem me dera ter filhos tão lindos!"

Uru agradecia aos elogios, contente. Porém havia reparado que as leoas brincavam mais com Tau e mantinham certa distância de Bianka. Após matutar um bocado, deduziu que sua semelhança com o avô Dallas poderia ter influência nisso. Eles eram realmente muito parecidos.

Mas a pequena princesa parecia não se importar. Enquanto Tau soltava leves gargalhadas finas de filhotinho recém-nascido, sacudia as patinhas no ar e se jogava para cima da irmã á procura de bagunça, Bianka aparentava ser mais tranquila e preguiçosa. Sorria de canto de boca para as poucas leoas que faziam festa com ela e adormecia logo em seguida.

Ahadi recebia congratulações das leoas que passavam por ele, até que Abbas se aproximou do rei:

- Meus parabéns, majestade. Seus filhos são lindos!

- Obrigado, Abbas. Aposto que o seu também será...

- É mesmo. Azali nos contou que será uma menina...e que deve nascer em breve!

- Não me surpreende! Safira está grávida a bastante tempo!

- Ela insiste em nomear você como padrinho dela. O que você acha, meu rei?

Ahadi sorriu:

- Claro! Ela é madrinha de Tau e Bianka também, se não me engano. E, por favor, me chame de Ahadi!

Os dois conversaram animademente por bastante tempo. Pareciam até velhos amigos. De longe, Uru admirava a cena, sabia que seu prometido mantinha uma pulguinha atrás da orelha á respeito de Abbas, mas aquilo parecia se desvanecer aos poucos naquele momento.

O tempo foi passando, e ambos, Ahadi e Uru, começaram a sentir falta de Kala.

A rainha sentia o coração partido. Será que sua própria irmã não iria nem ver seus sobrinhos? Não era possível...Kala nunca faria isso com ela.

Já Ahadi tinha a preocupação nas alturas. Fazia certo tempo que não via Kala e, se via, avistava de longe e, se ousava se aproximar, a leoa dava um jeito de desaparecer de sua vista. Já tinha a impressão de que Kala andava fugindo dele, mas...não teria motivos para isso...teria?

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A chuva ficava cada vez mais forte. Debaixo da Pedra do Rei, lá estava Kala. Havia encontrado forças nas peras para se locomover até lá. Era um ponto cego, ninguém a veria da caverna e, assim, poderia descansar sossegada. Lamentava apenas não poder ver seus sobrinhos...

De repente a leoa avistou, de longe, duas silhuetas se movendo rapidamente pela tormenta, se aproximando cada vez mais da Pedra do Rei. Conforme foram chegando mais perto ela os reconheceu: eram Azali e aquele jovem babuíno esquisito, que havia ajudado Uru a carregar os flhotes no dia anterior.

"O que ele ainda está fazendo aqui?" pensou Kala, "Será que é amigo de Azali? Provável...ele tem pinta de xamã."

Resolveu deixar as perguntas retóricas para depois. Deveria, agora, tentar se encolher para não ser vista por eles.

Quando achou que iam passar direto, o tal babuíno reparou nela:

- Azali, olhe! Uma leoa aqui. Deve estar ferida!

Kala xingou o babuíno de todos os nomes horríveis que sua confusa mente recordava:

- Oh, coitada. Vamos ver o que ela tem!

Kala escondia o rosto. Naquela confusão de chuva e sombras Azali não deve tê-la reconhecido, mas ao chegar mais perto, obviamente, identificou-a com espanto:

- Kala??? Meus Reis, o que diabos está fazendo aqui?

Kala abriu a boca para falar, mas dela só saiu um gemido confuso. Azali pôs a pata em sua testa e deu um pulo:

- Oh! Você está ardendo em febre! - sinalizou para o babuíno, que a atendeu prontamente - Rafiki, se incomodaria de buscar um pouco de água fresca? Com essa chuva, você só precisará de algo grande para carregá-la.

Rafiki concordou com a cabeça e saiu, aos pulos.

Azali virou a cabeça para Kala. A pobre leoa sentia as patas dormentes:

- Kala, o que está acontecendo? Porque não está lá em cima com os outros...ou melhor, por que não me chamou para tratar de você?

A leoa de pelo vermelho abaixou o olhar, demonstrando leve receio. Confiaria em Azali para qualquer outro assunto...menos para esse.

A curandeira continuava a encarando, em busca de uma resposta:

- Kala...parece nervosa, com medo...o que você não quer me contar?

Nesse momento Rafiki chegou. O pelo ensopado, carregando uma casca de fruta oca com apenas água fresca dentro.

Azali prontamente desviou sua atenção para ele, deixando Kala aliviada. Vagarosamente começou a banhar a leoa, principalmente na nuca. A água gelada esfriaria sua temperatura por hora, enquanto esperavam a chuva passar para procurarem a erva medicinal correta para curá-la.

Durante o banho, Kala não deu um pio. Quando ele acabou, continuou calada. Azali podia ver que ela escondia algo sério, estava estampado em seu rosto...e não apenas no rosto.

A xamã pediu a Rafiki que subisse e disesse que ela estava ocupada e só compareceria á caverna mais tarde, quando a chuva pasasse. O babuíno assim o fez, deixando Azali e Kala sozinhas.

Azali foi a primeira a quebrar o silêncio:

- Kala, não adianta tentar esconder...eu sou curandeira, lembra? Bastou eu lavar sua barriga para saber...

Kala, em um tom desesperado, cortou a fala de Azali:

- Por favor, por favor, não conte a ninguém Azali, eu imploro! Tenho medo do que podem fazer comigo ou...

- Não tenho motivos para contar querida, acalme-se. - Azali a tranquilizou - Apenas quero uma confirmação primeiro, que me esclarecerá tudo que está acontecendo...quem é o pai?

A chuva parecia se tornar mais e mais forte enquanto Kala sentia a respiração pesar:

- Ahadi - ela balbuciou - Estou grávida de Ahadi.

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Oooolá meu povo!

Tranquilos?

Então...tenso ein?

O que acharam dos filhinhos de Uru? 

Aquela é a minha versão de Tau filhote e Bianka tem exatamente a mesma cor de pelo de Dallas, pra reforçar mais o fato do preconceito que as leoas tem com a pobrezinha kkkk.

E Ahadi e Abbas parecem finalmente estar se entendo e virando amigos :)

E aí? Será que nasce Mufasa dessa treta toda aí?

E o filhote de Safira? E Sarabi, filha de Edan e Síria?

Muito obrigada por ler até aqui e não se esqueça de comentar (^_^)/