sábado, 25 de julho de 2015

O Início - Cap 6

- Quero todos os que habitam este reino, inclusive os filhotes, aqui, na minha frente!
Foi assim que a manhã seguinte começou. O sol ainda despontava ao Leste e todas as leoas já acordavam, sonolentas, com o chamado do Rei Dallas.
Kala estremeceu ao ouvir a voz poderosa do rei. Se lembrou das palavras de Ahadi na noite passada e se encolheu como uma bola. Nunca sentira tanto medo na vida.
Uru bocejava ao seu lado e se espantou com a expressão tensa da irmã:
- Kala, voce está bem?
Kala deu uma mexidinha no ombro para afastar a pata que a irmã tinha reposado lá, em sinal de conforto. Sabia que se contasse para Uru ela ficaria desesperada e daria soluções precipitadas, não tinha muita maturidade para lidar com isso. Kala teria de se virar sozinha até que a execução não fosse mais segredo:
- Sim Uru...está tudo bem...
Uru ficou com uma pulga atrás da orelha, mas assentiu:
- Tudo bem então. Acho que o Rei Dallas está nos chamando! Vamos ver o que ele tem pra falar agora... - Uru contorceu o focinho ao falar o nome do Rei.
Kala e Uru foram andando aonde as outras leoas se reuniam, Kala pensava em algum modo de escapar da execução, mas não sabia o que fazer. Estava desesperada.
Ao chegarem na Pedra do Rei, Dallas deu sua palavra:
- Eu tive um sonho...provavelmente os antigos reis estão se comunicando comigo. Sonhei que o céu de estrelas criava garras negras. A lua, tão bela e pura, criava caninos poderosos e tão brilhantes quanto o reflexo destas nos rios. O Sol demorava para chegar, mas quando deu o ar de sua graça, pereceu nas garras e presas da Noite, fazendo com que, assim, a Noite reinasse para sempre.
Quando ele terminou de falar, as leoas se entreolharam confusas. O que isso teria a ver com elas?
Dallas pigarreou, como que para soar mais formal e tênue, e continuou:
- Acredito que vocês não tenham compreendido o significado disto. Eu também não compreendi de certa forma, mas tive uma conversa com a leoa Azali esta manhã e ela me disse que, tal como o Sol, um rei está acima de todos e ilumina a todos os seus súditos com seu reinado, repleto de graça. Este sonho seria um aviso. O dia, que fora brutalmente assassinado pela fúria da noite, indica o meu reinado, que é cobiçado pelo mal! Tal como o Sol ilumina a Lua, gerando, assim, a noite, o mal que ameaça meu reinado é fruto de algo que fiz. Algo que eu próprio criei.
Kala começou a chorar. Sabia do que ele estava falando agora:
- Por isso, deduzi que Mohatu é o meu problema! Ele não está mais aqui, mas sua presença é marcada de certa forma: seus herdeiros. Eles ainda estão entre nós, e devo eliminar o mal pela raíz!
Uru assustou-se. Ele não estava pensando em matar a ela e sua irmã, estava?
- Peço que tragam até mim os filhos de Mohatu. Darei um jeito neles.
As leoas que pertenciam ao território do Sul entraram em desespero. Kala e Uru eram as únicas filhas de Mohatu e, por conta disso, as queridinhas do antigo reino. Não havia uma leoa sulista que não gostasse das princesas e agora este maldito nortenho chega, toma o lado de Mohatu no reino e ainda quer matar as princesas?
As leoas se puseram, imediatamente, em volta de Kala e Uru, para proteger as princesas, que estavam em pânico! Uru chorava desesperadamente enquanto abraçava-se a irmã. Vendo que as sulistas se recusavam em entregar as pequenas, as nortenhas vieram em favor de Dallas. Mandavam que elas obedecessem ao rei e brigavam com elas. Dallas, vendo que não seria fácil, desceu da Pedra e tentou põr ordem:
- Meninas, meninas! Quietas, todas voces!
As nortenhas recuaram e ficaram quietas, obedecendo ao rei, mas as sulistas se recusaram:
- Não vamos entregá-las, são apenas filhotes!
- Não irão te fazer mal algum...
- Por favor, piedade!
Dallas rugiu, interrompendo os gritos das leoas:
- Eu sou o rei de vocês agora, e devem fazer o que eu mandar! Me entreguem esses filhotes!
As leoas não se mexeram. O círculo estva fechado em torno de Kala e Uru, o que impedia Dallas de vê-las, ele apenas ouvia o choro baixinho das duas:
- Vou ter que apelar? Que seja!
Dallas se aproximou da primeira leoa que viu e deu-lhe uma patada bem forte na cabeça. Ela foi arremessada para o lado, com profundas marcas de suas garras no rosto.
Isso gerou espanto geral. Uma das leoas do grupo saiu correndo e deitou-se ao seu lado, tentando reanimá-la, todos olhavam para a leoa machucada, esperando que ela se levantasse. Mas ela não movia nem um músculo sequer:
- Acho que está morta. - falou Dallas, com desdém - Bati com força suficiente para matar.
A leoa que estava ao lado do corpo gritou e jogou-se sobre a leoa morta, incapaz de segurar a própria dor enquanto chorava. Era sua irmã a leoa que Dallas havia acabado de matar, sem dó ou piedade. Enquanto abraçava o corpo frio da irmã, sujava seu pelo dourado de sangue e xingava Dallas dos nomes mais horrendos possíveis, depois, as leoas nortenhas tiveram que intervir, para segurar e impedir que a pobre leoa avançasse contra Dallas, procurando vingar a irmã. O rei apenas a ignorou:
- Me netreguem esses filhotes, antes que mais cenas como essa se repitam!
As leoas não sabiam o que fazer. Estavam com medo! Não tinha como lutarem...Dallas era muito forte e tinha todo o Povo do Norte ao seu lado. O Sul não era tão populoso assim.
Se continuassem protegendo as princesas, Dallas estaria disposto a matar todas as leoas dali, uma por uma, até o círculo em volta das pequenas ser desfeito...não valia a pena.
Foi quando uma leoa, cabisbaixa, afastou-se do círculo. Relutantes, todas as outras, uma por vez, fizeram o mesmo até Uru e Kala não terem mais proteção alguma. As irmãs já não choravam mais, e se abraçavam como se aquilo fosse impedí-las de morrer, remiam de medo e soluçavam.
Dallas caminhou até elas. As leoas do Sul, com sentimento de culpa, desviavam o olhar de súplica que as princesas dirigiam a elas:
- Mohatu teve apenas duas filhas? - perguntou Dallas, incrédulo.
Nenhuma leoa ousou responder. Dallas perguntou outra vez, exigindo uma resposta, e uma das leoas sulistas disse: "Sim".
Ele avaliou as irmãs de cima a baixo. Kala estava tonta e sentia que ia desmaiar de nervoso. Uru sentia que queria chorar, mas já não haviam mais lágrimas. Até que Dallas cortou o silêncio:
- Qual de vocês se chama Uru?
Ele falou de forma tão repentina que assustou as pequenas. Uru se levantou e falou num fio de voz:
- Sou eu...
Dallas conteve um sorriso zombeteiro. Queria brincar um pouco:
- Acha que sou um péssimo rei agora, minha pequena notável?
O rei conhecia o jeito de Uru, sabia como tirá-la do sério. A leoa rosnou:
- Sim, acho! Estou de certa forma feliz por ter de morrer e nunca mais aturar você e sua família chata!!
Kala repreendeu Uru, enquanto Dallas soltava uma gargalhada de desdém:
- Você, Uru...pouparei sua vida. Tenho planos para você. Agora esta aqui - disse ele apontando sua garra para Kala - esta morre!
Dallas deu meia-volta, já ia partindo quando olhou por cima do ombro e, dirigindo-se à Kala, falou:
- Terá tempo para se despedir de quem quer que seja importante para você. A execução será amanhã, ao raiar do Sol, a hora em que o dia vence a noite! Com o extermínio da noite, o Sol e a manhã se reerguerão, assim como o rei e seu reinado se reerguem com o extermínio do mal!
Kala caiu em prantos outra vez. Uru tnão podia acreditar, mais uma vez Dallas mataria um alguém importante para ela. Se não fosse por Kala, Uru não sabia o que teria feito nesses últimos dias de dor e sofrimento e, agora, não podia imaginar como seria sem ela!
Antes que pudesse fazer qualquer coisa, Uru sentiu dentes agarrando-lhe pela pele do cangote. Ela viu-se sendo carregada para longe por alguém que ela não sabia quem era, até ser posta no chão outra vez. Ela olhou pra cima e viu Dallas, que apenas disse:
- Me encontre ao entardecer, na entrada da cova. Tenho algo para comunicar a você.
Uru nem teve tempo de dizer nada, o rei foi embora, trotando.
Kala tinha o rosto inchado de tanto chorar e veio atrás dela, choramingando:
- Uru...Ah Uru...
 Ela mal conseguia falar. Uru abraçou a irmã. Queria ter dito alguma coisa para confortar Kala, mas faltavam-lhe palavras. Não sabia quais palavras teriam o poder de tirar o medo do coração da irmã, então ficou em silêncio. Só um pouco mais tarde, ao refletir sobre o assunto, Uru concluiu que, naquela ocasião, nenhuma teria.
Ao entardecer, Uru se lembrou de seu encontro com Dallas na Caverna de PrideRock. Olhou para Kala, com quem havia passado o resto do dia, fazendo as coisas que as duas mais gostavam de fazer e lembrando da época em que se divertiam pelo reino com Mohatu, e inventou uma desculpa, afinal, sabia que a irmã não ia gostar de saber que andava tendo conversas com Dallas:
- Kala eu...já volto. Vou falar com Azali, perguntar pra ela sobre um sonho que eu tive.
Kala se levantou:
- Vou com você, não quero passar o meu último dia de vida sozinha.
- Não Kala, você passou o dia inteiro apenas comigo. Aproveite para se despedir das outras leoas também!
Kala suspirou, desanimada e deu meia volta em direção á Pedra onde as leoas costumavam pegar o Sol da tarde. Uru foi até a caverna e, ao chegar lá, encontrou Dallas e, sentado ao lado dele, Ahadi:
- Oh, se não é a nossa princesa! - disse Dallas, dando um sorriso falso.
Uru bufou:
- O que você quer?
- Vim aqui para falar com vocês dois, meu filho Ahadi e a filha de Mohatu, Uru.
Uru deu uma olhada rápida para Ahadi, mas ele resolveu olhar para ela também. Quando os olhares dos dois se encontraram, ambos desviaram ao mesmo tempo:
- Vou contar uma história para vocês - Dallas mantinha um sorriso bobo no rosto - Era uma vez dois reinos rivais. O Reino Norte e o Reino Sul.
Ahadi e Uru se sentaram, mantendo uma boa distância entre eles. Dallas continuou:
- O Rei do Norte possuía um herdeiro, um príncipe. Já o Rei do Sul, uma princesa.
"Se parece bastante com os nossos antigos Reinos divididos." Uru pensou:
- Um dia - continuou Dallas, soando mais sombrio do que antes - A princesa do Sul se perdeu no território Norte, e o príncipe do Norte a encontrou.
Uru deu uma olhadinha para Ahadi, tendo, agora, certeza de que Rei Dallas falava sobre os dois. Ahadi permaneceu imóvel. Parecia saber o que vinha a seguir.
- O príncipe do Norte sabia que seu pai, o Rei, faria de tudo para ter aquela princesa perdida nas garras. - Dallas ergueu uma das garras e passou, lenta e cuidadosamente no seu pescoço, fazendo um guincho com a boca - Porém, o príncipe, petulante, decidiu ajudar a pobre princesa, levando-a com segurança até a sua casa, no Sul. O que vocês, jovens leões, acham desse príncipe?
Uru demorou um pouco para perceber que Dallas dirigia a pergunta aos dois. Ela sabia que o Rei falava sobre ela e Ahadi, naquele dia em que se conheceram e se tornaram amigos...ou, pelo menos, era isso que Uru achava que eles haviam se tornado.
Ela não sabia o que dizer, portanto aquietou-se. Ahadi também não ousou falar. Vendo que os dois não responderiam, Dallas bufou e respondeu ele mesmo:
- Bem, já que não querem falar, eu respondo por voces: este príncipe é, nada mais, nada menos que um traidor!
Ahadi puxou ar, como se fosse falar algo, mas ao ver o olhar que o pai dirigia a ele, desistiu de dizer alguma coisa:
- Portanto, considerando o fato de que seu pai, o rei, não tolera traições, eu acho que este príncipe merece ser punido, não acham?
Ahadi levantou-se:
- Como o senhor ficou sabendo?
- Hora ou outra eu saberia, não acha?
- O que vai fazer comigo?
- Eu já estou chegando nesse ponto - Dallas deu uma risadinha e dirigiu-se a Ahadi - Sabe, já que gosta tanto da princesinha a ponto de trair seu próprio pai e ajudá-la a escapar, imagino que não terá problemas em aguentar ela durante o resto de sua vida, não é?
- O que você quer dizer com isso, pai?
Dallas suspirou, olhou para o céu e levantou a voz:
- Em nome dos Antigos Reis e dos Reis que estão por vir, do velho e do novo, do inverno à primavera, eu declaro, para todos que possam ouvir, em nome de meu poder sobre essas terras...sobre todas as Terras do meu Reino, declaro a união eterna de Ahadi e Uru!
O céu fechou acima do rei e dos filhotes, um vento forte começou a soprar, fazendo a espessa juba de Dallas dançar com a brisa. Ahadi e Uru não compreendiam o que estava acontecendo, não compreendiam o quão forte era o que Dallas fazia agora:
- Eu declaro e faço aqui meu juramento de união eterna, a todos vocês que me ouvem dos céus, juramento este que irá decorrer até o fim de suas miseráveis vidas!
Dallas havia feito um juramento aos Reis do Passado. Um tipo de juramento que não podia ser, de forma alguma, quebrado. Ahadi e Uru, agora, estavam para sempre destinados a viver em união, como um casal.
Ahadi não entendia, mas Uru, de repente, se lembrou. Kala já havia lhe contado sobre esse juramento, foi o mesmo juramento que seu pai, Mohatu, havia feito quando sua mãe morreu. Ele jurara nunca mais se unir a leoa alguma até o fim de sua vida. Ela entendeu e viu sua chance de salvar a vida da irmã. Ela pulou na frente do rei e gritou:
- Você preisa de mim para fazer esse juramento dar certo e castigar o seu filho, e eu digo que não irei fazer parte dele a menos que você poupe a vida da minha irmã!

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Capítulo meio grandinho pra compensar meu sumiço ^^
Digamos que não tive casa nessas férias, por isso tô sumida, Mas agora eu voltei :D
Dallas está fazendo um perigoso juramento aos Antigos Reis, para ter certeza de que Ahadi vai cumprir com seu castigo e se casar com Uru. No fim, eles, terminaram juntos, de qualquer maneira '^^
Mas agora veio Uru com a questão da irmã...será que Dallas vai concordar em deixar Kala viva? O que será que acontece á ele se ele disser "não"?
Obrigada por ler até aqui e não se esqueça de comentar :D


3 comentários:

  1. A...minha...boca...ficou...seca...Mas o capítulo ficou bem legal XD

    Esperando o Próximo

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  2. Man, se eu dissese que li imaginando a voz do Dallas na mente vc acreditaria? xD
    Pan, vc tem O dom! Seus textos sáo incríveis, incluindo as frases marcantes *-*
    Com certeza quero mais!

    ~Aguardando

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  3. poderia participar da minha historia?
    http://thestoriesofthelionking.blogspot.com/2015/08/five-elements-story-nova-historia.html

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